Era bom em transformar coisas intangíveis em desenhos, reduzia um sentimento vasto a alguns traços simples e firmes, eternizando-os nos corpos em forma de tatuagem.
Se alguém lhe pedisse uma estrela, um dragão, rapidamente ele recomendava um colega. Não era tatuador, era intérprete.
Pediram-lhe mais tempo. Ele deu um relógio de Dali escorrendo no ombro esquerdo.
Pediram-lhe fé. Ele pregou uma cruz de cabeça para baixo na parte interna do antebraço, emaranhada em rosas cheias de espinhos.
Pediram-lhe luz. Ele deu três pequenos vagalumes na região do cóccix.
Pediram-lhe vingança. Ele deu um ás de espadas na nuca.
Pediram-lhe liberdade. Ele deu asas em seus pés.
Pediram-lhe um caminho. Ele deu pegadas em toda a extensão da coluna.
Pediu-lhe seu amor. Ele deu apenas um beijo na boca e tatuou, em seu próprio peito, um buraco de fechadura, jogando em seguida todas as suas agulhas fora.
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